
Antes do final já esperado,
Oh vida breve, é um sopro,
é um vento carregado
pronto pra apagar o fogo,
o menino então entende
que o tempo vale muito,
e o tempo de quem sente
é melhor tempo do mundo.
Recorda um sonho: um velho
triste que então dissera:
“a flor do seu evangelho
vai murchar na primavera.
Mas, se a semente corre
é pra retornar de novo,
nesta terra nada morre,
se semeada pelo povo…”
Lembra da bola, de João,
do Egito, da Palestina;
do pai, calejada a mão,
dos crucificados na colina.
Pensa em sua mãe Maria
e a saudade bate forte;
no cheiro da carpintaria,
pensa na vida e na morte.
Pensa seu rosto profano
que o espelho lhe mostrou:
“Se o diabo é humano,
um deus eu também sou”.
E, por fim, vê o silêncio
no vazio que se aproxima,
o alcança, um pio suspenso
nessa jornada que termina.
Trecho de O evangelho do aprendiz de carpinteiro – Pedro Paulo Pieroni, São Paulo, 2025.