
No quintal, o vento bateu tão forte, mas tão forte, que tremeu as cordas da balança. Sem parar quieta, ela agora vai pra lá e vem pra cá, balançando toda a toda.
A corda que dá sustentação à balança é preta e branca, entrelaçada. Presa numa ponta cadeirinha, feita de tábua comum, é verdade, mas caprichada nos trinques, o acabamento com verniz. E, com o vento, a balança vem pra cá e vai pra lá, balançando toda a toda.
Ela movimenta-se tão macia e agradável, que parece ter sido empurrada pelas mãos de uma criança. E a outra criança, balançando, deu um salto e correu. Mas só se parece, é só o vento. E com isso, a balança vai pra lá e vem pra cá, solitária, balançando toda a toda.
Ora lá, espere um pouco, nem tão solitária assim. Há um homem sentado no quintal, observa ao vao e vem da balança, ela balançando toda a toda, de modo que ameaça um sorriso, mas fecha o rosto, olha pro alto, com as pernas dobradas, juntas, abraça os joelhos e solta o suspiro.
Assim ele lembra, assim ele chora. E ainda que houvesse um balão de quadrinhos pronto a revelar seu pensamento, ele chora.
Ignorando tudo isso, a balança vai pra lá e vem pra cá, balançando toda a toda.